Um dador de sémen dinamarquês, identificado apenas pelo pseudónimo “Kjeld”, está no centro de uma investigação internacional depois de se confirmar que várias das suas doações continham uma mutação genética rara associada a um elevado risco de cancro. Pelo menos 197 crianças terão sido concebidas com o seu esperma, distribuído entre 2006 e 2022 por clínicas de fertilidade em 14 países europeus.
A mutação foi encontrada no gene TP53, responsável por prevenir o desenvolvimento de tumores. Alterações neste gene estão ligadas à síndrome de Li-Fraumeni, uma condição hereditária que pode aumentar drasticamente a probabilidade de desenvolver vários tipos de cancro ao longo da vida, incluindo tumores no cérebro, ossos e tecidos moles.
A situação veio à tona após médicos europeus identificarem casos de crianças com cancro cujos pais recorreram ao mesmo banco de sémen. A partir daí, clínicos e autoridades de saúde começaram a estabelecer ligações entre os diagnósticos e o mesmo dador.
O dador era considerado saudável e os exames padrão realizados na época não detetaram a mutação, já que testes genéticos avançados não eram obrigatórios. Só anos depois, com o avanço da genética e novas análises, a anomalia foi finalmente descoberta.
O banco de sémen envolvido suspendeu imediatamente a utilização das amostras restantes e bloqueou o dador, mas muitas crianças já tinham nascido antes da identificação do problema.
O caso reacendeu o debate sobre falhas na regulamentação internacional da reprodução assistida, especialmente no que diz respeito ao número máximo de crianças por dador e à necessidade de testes genéticos mais rigorosos.
Autoridades de vários países estão agora a contactar famílias potencialmente afetadas para realizar exames e acompanhar as crianças que possam ter herdado a mutação.